Reportagem mostra o cotidiano de uma mãe e quatro crianças que sobrevivem de limpar vidros de carros.
Crianças de frente para o crime. Tantas e tão pequenas em volta do corpo de um vizinho. Muitas delas levadas pelos pais e mães para vivenciar mais uma das tragédias da vida. Meninos que nem cresceram e já acham que têm malícia, que são espertos. Aprendem a driblar o que for necessário para ter cola, por exemplo. Quando perguntado sobre a alimentação, um garoto não reclama. “Eu me alimento. Eu como tudo o que eu quiser”, conta. Não há quem dê limite a essas crianças. Elas simplesmente repetem cenas que vêem na rua, como os assaltos e o trabalho, desconhecendo a expressão 'exploração infantil'. Câmeras da Secretaria de Defesa Social flagram um idoso de 71 anos sendo atacado por dois meninos. Um de 11 anos e outro de 14. Com ninguém por perto, eles roubam a carteira do homem e se sentem os donos da rua. Até a polícia chegar.
Aprendem cedo as coisas, da pior maneira. “Coisas boas que a gente aprende na rua? Não tem. Ruins tem demais”. “A pessoa chega e quer bater nas crianças, falar coisas que não deve e eu me encontro assim. Os meus filhos eu não aceito que ninguém maltrate”, fala uma mãe que vive com seus filhos na rua. Mas já não é maltratada uma criança que é levada pela própria família para trabalhar limpando vidro de carro? “Continue lavando os seus carrinhos”, fala a mulher para uma das crianças. A família toda trabalha no sinal de trânsito. Os meninos são fontes de renda. A mãe até sabe que eles são pequenos demais para o trabalho. “São pequenos, mas aí é o seguinte: eles trabalham no rodo atento. Eles já sabem manobrar na pista. Eles vão pra pista. Eles me dão R$ 5, R$ 10 R$ 15. Eu tenho filho de 7 anos que me dá todos os dias R$10”, fala chorando Maria Cristina Duarte. A família dela se divide nos dois expedientes. Enquanto duas crianças estão na escola, duas ganham dinheiro no trânsito. Depois, as que trabalharam, tomam um banho na torneira que fica embaixo da ponte e é vão para o colégio. Na rua mesmo, mudam de roupa. Um pega a farda e o tênis do outro e troca o turno de serviço. “Eu pego de 13h. Aí pego até 17h10 e vou para a rua. Arrumo R$2, compro de pão e volto para casa para dar café aos meus irmãos”, conta um menino de 11 anos, cujo desejo é trabalhar em uma borracharia. De brincar, ele se diz enjoado. De todos os filhos de Maria Cristina Duarte, nenhum sabe ler.
Se fossem capazes, saberiam que não deveriam levar a vida daquele jeito, que deviam estar na escola e ter direito a brincar, como diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda há uma menina de 6 anos. Ela não pede dinheiro e nem vai para a escola. É sobrinha das outras crianças. A mãe, que hoje tem 20 anos, é prostituta e trabalha no bairro de Santo Amaro. “A mãe dela vive no mundo das drogas, prostituição. Ela vive andando por aí. Vive muita loucura”, conta Cristina. Os dentinhos de leite da menina já estão prejudicados. “É porque eu fiquei chupando chupeta e não fiquei escovando”, fala a criança. A noite chega e a família dorme ao relento. O escuro traz reflexões e lágrimas. Trabalho infantil, crianças sem assistência médica, que crescem sem saber ler nem escrever.
Elas vivem num sinal por onde passam 11 mil carros por dia. Será que nenhuma autoridade vê isso? Nesta quinta-feira (7), a quarta reportagem da série Invisíveis vai mostrar que a família de Maria Cristina é uma velha conhecida da Prefeitura do Recife e qual a diferença que isso faz na vida dela.
Fonte: Da Redação do pe360graus.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário